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TOP MÁQUINA

Eu faço Trail e sou uma Máquina. E isso é Top!

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Eu faço Trail e sou uma Máquina. E isso é Top!

Mental Coach

por Pedro Caprichoso, em 30.12.16

Sabem do que é que o Trail Nacional está a precisar? De Gajas Boas, de Trail a Sério, de Doping do Bom, de um Circuito Nudista e, acima de tudo, de Mental Coaches.

 

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Os velhos do restelo continuam a acreditar que sem uma boa preparação física não se vai a lado nenhum; e que a resiliência mental vai-se adquirindo naturalmente ao longo do tempo, através da participação em provas cada vez mais desafiantes. Hoje, como bem sabemos, isso é tudo treta. O Zé e a Maria já perceberam que isto não vai lá com Treinadores, nem com PTs, nem com meros Coaches. Mais do que trabalhar o físico, o segredo está em trabalhar a mente. A mente manda no corpo. Basta acreditar. Levaste com a marreta ao k85 do UTSF? Basta acreditar. Deu-te caganeira ao k78 do UTAX? Basta acreditar. Fizeste uma entorse ao k4 do MIUT? Basta acreditar. Mas onde é que estão os profissionais que nos façam acreditar?

 

Por um lado, temos atletas desmotivados que querem muito acreditar que podem ser o Éder do Trail Nacional. Por outro, temos vedetas do Trail Nacional que passam a vida a partilhar frases inspiradoras nas redes sociais. Trata-se, portanto, de juntar a fome à vontade de comer. Com tantos empreendedores—não confundir com oportunistas—a orbitar o Trail Nacional, não percebo como é que ainda ninguém explorou este mercado. Anda por aí muita gente a dormir.

 

Não se admirem, pois, se nos próximos meses virem anunciados Cursos de Auto-Ajuda no âmbito do Trail. Imaginem: 30€ por uma conferência motivacional com o Gustavo Santos do Trail Nacional. Escrevam o que eu escrevo: os Gustavos Santos do Trail Nacional vão ficar milionários. Fica uma pergunta: onde é que um gajo se inscreve?

Corredor de Estrada Vs Corredor de Montanha

por Pedro Caprichoso, em 17.12.16

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“O Carlos Sá é muito bom, mas ele só fez 1h16 na Meia Maratona Sportzone”, disse-me aqui há uns anos um amigo atleta de estrada, cujo PR na Meia Maratona situa-se abaixo da 1h16. O Carlos tinha feito 4.º no UTMB e o meu amigo insinuou que seria capaz de fazer o mesmo se estivesse para aí virado e treinasse em montanha. Em nome do pai, do filho e do espírito santo! Santa ignorância. A pergunta que então se impõe é: Então por que não fazes? Mas não vale a pena ir por aí. Acreditem que não vale. O menosprezo de alguns atletas de estrada em relação aos atletas de montanha é frequente. Mas, se repararem, só é frequente naqueles que nunca fizeram uma prova de montanha.

 

Um: embora sem conhecimento de causa, parece-me evidente que o Carlos não fez a Meia Maratona Sportzone a fundo. E, treinando especificamente para uma Meia Maratona, acredito que a faria em menos de 1h10. [Dito isto, 1h10 não é nada de especial a nível internacional. Lembro que o recorde do mundo da Meia-Maratona situa-se abaixo de 59min.] Dois: o que as pessoas não percebem é que correr em estrada e correr em montanha são dois desportos diferentes. Costumo dizer que a diferença entre uma prova de estrada e uma prova de montanha é a mesma entre o ténis e o ténis de mesa: ambos jogam-se com raquetes (metendo uma perna à frente da outra), mas o terreno de jogo é completamente diferente (estrada vs trilhos; plano vs acidentado; alcatrão vs pedra).

 

Tais diferenças, de tão grandes que elas são, traduzem-se inclusive na fisionomia dos seus melhores atletas: já se perguntaram por que razão os melhores atletas de estrada são maioritariamente magros, leves e altos; e os de montanha são maioritariamente musculados, pesados e entroncados? Tem tudo a ver com as diferentes exigências associadas à estrada e à montanha. Na estrada tem tudo a ver com a relação peso / potência, pelo que o peso corporal é de vital importância, bem mais do que a potência. Como bem sabemos, a potência muscular e o VO2max são essencialmente determinados pela genética: não posso mudar a minha constituição física (altura, capacidade metabólica, etc.) e a melhoria que se pode obter a nível do VO2max através do treino não é muito significativa. Daí que o treino de um maratonista passa, sobretudo, por manter um peso corporal baixo exercitando o seu organismo no sentido de consumir calorias, na forma de gordura, da forma o mais eficiente possível. Não tenham dúvidas de uma coisa: os maratonistas de elite são geneticamente superdotados. Em montanha, pelo contrário, parece-me que a relação peso / potência está mais inclinada para o lado da potência, bastando para isso olhar para os nossos melhores atletas de Montanha / Trail / SkyRunning. Isto é, em montanha é bem mais importante ter aquilo a que popularmente se designa por uma boa “caixa” (capacidade cardiovascular) do que uma fisionomia mais leve e eficiente. Não é por acaso que há exemplos bem conhecidos de gente com bons resultados em provas de Trail com origem no BTT. Já em estrada a história é diferente, pois tenho conhecimento de ciclistas que não se dão tão bem em provas de estrada.

 

No entanto, para além da relação peso / potência, há mais dois factores a ter em conta na montanha, sobretudo no que diz respeito às provas de Endurance. Refiro-me à capacidade de resistência física e mental. A resistência mental tem a ver com cada um, sendo independentemente da fisionomia. Já em relação à resistência física, é preferível possuir uma maior massa muscular em provas de montanha, nomeadamente ao nível dos membros inferiores, devido à “porrada” infligida pelo terreno a nível muscular. Em suma, esta relação (resistência física / massa muscular) é tanto mais importante quanto mais longas, acidentadas e técnicas forem as provas.

 

A discussão com o meu amigo continuou animada até que ele se saiu com esta: “Se fizéssemos uma corrida de 85k entre o melhor atleta de estrada (i.e. recordista do mundo da Maratona) e o melhor corredor de montanha do mundo (i.e. Kilian Jornet), num percurso metade estrada e metade montanha, quem é que tu achas que ganharia?” “O atleta de estrada”, disse-lhe eu sem hesitar. É evidente que seria o atleta de estrada, pois a corrida de estrada é mais competitiva e está mais desenvolvida (em termos da metodologia do treino) do que a corrida em montanha. Isso é uma coisa. Outra coisa é dizer—como também já ouvi alguns espertos insinuarem—que pegariam num queniano qualquer, treiná-lo-iam durante 2 meses para participar no UTMB e que ele depois dava um bigode ao Kilian Jornet e amigos. Treta! Mais uma vez: a diferença entre uma prova de estrada e uma prova de montanha é a mesma entre o ténis e o ténis de mesa. Quem não perceber isto, não percebe nada.

 

Dito isto, no sentido de evitar o oposto (i.e. a desvalorização dos atletas de estrada), importa deixar bem claro que as performances alcançadas pelos atletas de Elite nas distâncias clássicas do Atletismo (5.000, 10.000 e Maratona) não têm paralelo no mundo da corrida. O melhor que se faz no mundo da corrida é aquilo que se vê nos Campeonatos do Mundo, Jogos Olímpicos e Maratonas Comerciais. Fazer menos de 13min aos 5.000, menos de 27min aos 10.000 e menos de 2h06 na Maratona é o pináculo da corrida de Fundo / Endurance. Sem espinhas.

Somos feitos para Correr

por Pedro Caprichoso, em 14.12.16

Há 3 mistérios relacionados com a corrida que ainda ninguém conseguiu explicar:

 

Primeiro:

O que faz do ser humano o animal terrestre com mais endurance à face da terra, conseguindo mais facilmente cobrir longas distâncias do que qualquer outro?

 

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Em termos de velocidade, o ser humano é um aselha: cães, esquilos, leões, cavalos, burros, esquilos, lobos, coiotes, elefantes, girafas, avestruzes, veados, linces, antílopes, cabras, gazelas, gnus, ursos, rinocerontes, javalis, gorilas, chitas… todos são mais rápidos do que o ser humano. A chita, o animal mais rápido à face da terra, consegue atingir a velocidade máxima de 120 km/h, enquanto o ser humano—aqui representado pelo recordista do mundo dos 100 metros Usain Bolt—fica-se pelos 44km/h.

 

Agora, meus amigos, no que toca a longas distâncias, ninguém nos bate. Peguem no Scott Jurek, num animal terrestre à vossa escolha, coloquem-nos lado a lado às portas do Mosteiro dos Jerónimos no pico do Verão, dêem o tiro de partida e depois vamos ver quem primeiro chega ao estádio do Dragão e nele dá uma volta de honra. Aposto o que quiserem que primeiro chega o Scott. Não porque o Homem é mais forte, não porque o Homem é mais rápido, não porque o Homem é mais inteligente, mas porque o Homem transpira mais.

 

Não há paralelo no reino animal. Não há outra espécie dotada com tão grande capacidade sudorífera, capaz de regular a temperatura corporal melhor do que qualquer outra. Imaginemos, por momentos, para efeitos comparativos, que o adversário do Scott Jurek é um cavalo. Acontece que o cavalo, embora mais rápido, teria de parar de tempos a tempos de maneira a diminuir a sua temperatura corporal, sendo que isto é apenas possível—tanto no cavalo como na maioria dos animais terrestres—por meio da respiração. E apenas através da respiração não é possível regular a temperatura corporal em movimento, pelo que o animal (qualquer outro animal) teria obrigatoriamente de parar sob pena de morrer por exaustão. Para que não restem dúvidas, resta-me dizer que esta experiência já foi levada a cabo e o Homem levou a melhor sobre o cavalo. No que às longas distâncias diz respeito, pode-se daqui portanto concluir que a rapidez dos outros animais não compensa o facto destes verem-se obrigados a parar com vista a regularem a sua temperatura corporal—pois quando param, param mesmo, e durante longos períodos de tempo, nomeadamente se a temperatura ambiente for elevada.

 

Segundo:

Como explicar o facto das mulheres se aproximarem dos homens em termos competitivos à medida que a distância aumenta?

 

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[Pam Reed – Vencedora Geral da Ultramaratona Badwater 2002]

 

Falando de velocidade pura e crua, a mulher é uma aselha em comparação com o homem: faça-se uma corrida entre os campeões olímpicos masculino e feminino dos 100 metros, e o macho, sem apelo nem agravo, dá uma banhada à mulher, deixando-a a quase 1,5s—o que, em termos de distância, corresponde a cerca de 15 metros.

 

No entanto, se estivermos a falar de uma Ultramaratona, nomeadamente daquelas para cima de 100 milhas (160 km), o caso muda radicalmente de figura: não é a regra, mas já houve mulheres que por mais de uma venceram provas deste calibre—e desconfio que só não ganham mais porque os seus níveis de participação neste e noutros tipos de eventos desportivos é consideravelmente inferior ao dos homens—sendo que regularmente as podemos encontrar no top10 das Ultramaratonas mais cotadas do mundo.

 

Terceiro:

Como explicar a gradual porém diminuta perda de performance que um atleta experimenta ao longo dos anos em provas de longa distância?

 

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 [Velho de 75 anos terminando a Ultramaratona Badwater]

 

Expliquemos através de um exemplo: em termos estatísticos, se uma pessoa—homem ou mulher—com 19 anos e sem passado de prática desportiva começasse hoje a treinar com vista a uma Maratona a realizar daqui a 4 meses, o mais provável é que o resultado que ele (ou ela) obteria seria o mesmo que ele (ou ela) conseguiria eventualmente obter com 67 anos de idade, à condição de que durante esse tempo (entre os 19 e os 67) tivesse regularmente continuado a treinar e a participar em Maratonas.

 

Estudos mostram que os atletas que começam a treinar para a Maratona por volta dos 19 anos atingem o seu pico de performance desportiva por volta dos 27, 28 anos, e que só cerca de 40 anos depois voltam ao ponto onde estavam aos 19 anos.

 

Pondo as coisas de uma forma mais simples: por que raio é que os velhos são tão bons em provas de longa distância?

 

XXX

 

Agora imaginem que há uma teoria recente que dá pelo nome de “A hipótese da corrida de endurance”, capaz de explicar os três mistérios acima brilhantemente expostos.

 

A “hipótese da corrida de endurance” sustenta que—e aqui vou citar a wikipedia—“antes da invenção da lança, a primeira arma de projéctil, há 200.000 anos atrás, os humanos antigos usariam a caça de persistência (também conhecida como caça por exaustão), em que, ao invés de tentar superar os animais pela velocidade, estes seriam perseguidos ao longo de grandes distâncias até entrarem em sobreaquecimento, sendo depois mortos por meio de um objecto pontiagudo. Assim, as adaptações que favoreçam a capacidade de correr longas distâncias teriam sido favorecidas nos seres humanos. Depois das armas de projéctil terem sido desenvolvidas – em tempos evolutivamente recentes – a importância da corrida de longa distância diminuiu, mas as características permaneceram."

 

A descrição da teoria explica, por si só, o primeiro dos mistérios. Quanto ao segundo e terceiro, estes decorrem simplesmente do facto de toda a comunidade ter obrigatoriamente de se deslocar atrás da caça, o que inclui os velhos e as mulheres.

 

Como é fácil de perceber, não faria qualquer sentido perseguir um veado até à exaustão durante 100 km e depois ter de voltar com o veado às costas para alimentar a família. Tivessem telemóvel e enviariam um sms com a localização do jantar, mas naquela altura apenas os homens caçavam e, como se sabe, os homens detestam mandar sms.

 

É sabido, por outro lado, que as mulheres com crianças lactantes são as que mais beneficiam das proteínas da carne, e que é perfeitamente natural pressupor que a experiência dos indivíduos mais velhos fosse indispensável durante a caça com vista a, por exemplo, escolher qual presa perseguir ou, segundo exemplo, indicar a direcção que a caça deve tomar através da leitura de pistas, como seja o caso de pegadas.

 

Aquilo que para mim, no entanto, melhor sustenta esta teoria são as características directamente associadas ao acto de correr (e não ao acto de caminhar) e que ainda hoje encontramos no corpo humano. Eis umas quantas:

 

(1) Ausência de pêlo e a abundância de glândulas sudoríferas como mecanismo de perda de calor;

(2) Dedos dos pés pequenos;

(3) Músculos dos glúteos enormes (que ajudam a manter o equilíbrio durante a corrida);

(4) A conhecida capacidade humana para a endurance em provas tais como as Ultramaratonas;

(5) A tendência para armazenar gordura corporal (que funciona como reserva energética aquando da realização de esforços prolongados);

(6) Pernas compridas e tendões que funcionam como molas;

(7) Intolerância por um estilo de vida sedentário, no que toca à obesidade, diabetes e outras doenças;

(8) Capacidade de respirar pela boca enquanto se corre.

 

 

 

Trail a Sério VS Trail a Brincar

por Pedro Caprichoso, em 12.12.16

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Vamos deixar-nos de merdas e dizer aquilo que todos pensamos mas não dizemos. Somos politicamente muito correctos em relação às várias variantes do Trail, dando a entender que todas têm o mesmo valor. A verdade é que todos sabemos que não têm. O Trail Curto (com pouco desnível e baixo grau de dificuldade técnica) não tem o mesmo valor do Trail Ultra e Trail Endurance (com muito desnível e elevado grau de dificuldade técnica). Todos sabemos o que é Trail a Sério. Trail a Sério é o Trail que menos semelhanças tem com o Atletismo de Estrada. Trail a Sério são os Abutres, o UTAX, a Freita, o MIUT, etc. Todos sabemo-lo tacitamente, mas ninguém tem colhões para dizê-lo. Por alguma razão é que as provas mencionadas são as mais conceituadas e apetecíveis do panorama nacional. Por que será que as inscrições destas provas esgotam num piscar de olhos? É simples: porque reconhecemos-lhes mais valor. Por alguma razão é que os melhores atletas nacionais optam por competir nos Campeonatos Nacionais de Trail Ultra e Trail Ultra Endurance. Por alguma razão é que o Campeonato do Mundo de Trail é disputado nas distâncias entre o Trail Ultra e o Trail Endurance.

 

O maior interesse dos atletas pelo Trail Ultra e Trail Endurance (com muito desnível e elevado grau de dificuldade técnica) não tem apenas a ver com o maior desafio fornecido por estas provas. Tem também (e sobretudo) a ver com o facto destas provas se demarcarem claramente do Atletismo de Estrada. O valor do Trail está nas diferenças que este apresenta em relação à Estrada. Pondo as coisas de outra forma: que valor tem um Trail se se assemelhar a uma prova de estrada disputada em estradões? Nenhum, direi eu. O valor do Trail está nas variáveis impostas pelo percurso (gestão da alimentação, técnica de descida, técnica de subida com e sem bastões, gestão do esforço, etc.) que o demarcam do Atletismo de Estrada. E quantas mais variáveis, melhor. Haver provas de Trail mais parecidas com provas de Estrada (do que com outras provas de Trail) traça claramente a linha de separa o Trail a Sério do Trail a Brincar. O Trail a Brincar também tem o seu lugar? Claro que sim. Mas não vejo que outra utilidade ele terá para além de funcionar como meio de introdução à modalidade.

 

Para alcançar bons resultados no Trail a Sério é preciso mais do que ter boas bases na estrada, o que valoriza o Trail enquanto modalidade. Na perspectiva do Trail a Brincar, o problema não está no facto de atletas de Estrada virem para o Trail na espectativa de alcançarem bons resultados graças ao (ainda) menor grau de competitividade do Trail em relação à Estrada. Isso é salutar: aumenta a competitividade, força os atletas a evoluir e o nível do Trail Nacional cresce por arrasto. O problema é estes atletas chegarem ao Trail a Brincar e começarem logo a vencer. Tal facilidade passa a ideia de que o Trail enquanto modalidade não é assim tão diferente do Atletismo de Estrada—o que é verdade no caso do Trail a Brincar—sendo que isso é a pior coisa que se pode dizer sobre o Trail para efeitos de promoção da modalidade. O melhor elogio que se pode fazer ao Trail é, justamente, pelo contrário, que é muito diferente da estrada. Por outras palavras, o sucesso do Trail está no seu afastamento—e não na sua aproximação—ao Atletismo de Estrada. Se estivesse à frente da ATRP, a primeira medida que tomaria seria criar essa distinção, inventando uma nomenclatura que separasse o Trail a Sério do Trail a Brincar. Aceitam-se sugestões.

A selecção da Selecção

por Pedro Caprichoso, em 07.12.16

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Notas prévias:


1.

Não sou fã de Selecções, nem no futebol nem no trail. O nacionalismo territorial diz-me pouco. Nunca comprei a ideia do dever de lealdade para com o meu país de nascimento pelo simples facto de nele ter nascido. Da mesma forma, não sinto o dever de apoiar um atleta só porque é meu compatriota. Para mim há coisas mais importantes, como a amizade. Fui ao Gerês apoiar os atletas da Selecção Nacional, não porque são Portugueses, mas porque alguns deles são meus amigos. Se tivesse amigos italianos, apoiá-los-ia de igual forma.

 

2.

Apoio a actual direcção da ATRP por uma questão de princípio. O princípio é este: os tipos que (ao contrário de mim) se chegam à frente e arregaçam as mangas (no sentido de tentar contribuir para a evolução do Trail Nacional) merecem o meu respeito e apoio. Têm o meu apoio até se provar que as suas medidas são efectivamente erradas, sendo ainda muito cedo para fazer tal avaliação.

 

XXX


Dito isto, apoiar alguém não significa estar sempre de acordo com ela. Acontece que neste caso discordo. Não me parece, definitivamente, que a medida de apurar (para futuros Campeonatos do Mundo) os 3 atletas melhor classificados (M/F) na edição imediatamente anterior seja o mais acertado, nomeadamente quando a única vantagem apresentada é a de "dar continuidade ao trabalho efectuado".

Com continuidade ou sem ela, parece-me que o mais importante é contar com os melhores atletas tendo em conta as características do percurso no qual se disputa o Campeonato do Mundo—e supor que 3 dos melhores são automaticamente os 3 primeiros do Campeonato do Mundo anterior não me parece ser lá muito coerente. Depende: podem ser como não ser, tendo nomeadamente em conta o crescente grau de competitividade do Trail Nacional.

Ter 3 atletas (M/F) que transitam de um ano para o outro pode ter efeitos benéficos ao nível do espírito de equipa: as pessoas já se conhecem e isso pode favorecer a união do grupo. No entanto, não vamos fingir que vivemos num mundo perfeito em que os interesses do colectivo se sobrepõem sempre aos interesses individuais. Tendo em conta esta medida, quem nos diz que alguns não vão dar prioridade ao Top3 nacional (com vista a participar no próximo Campeonato do Mundo) em detrimento de lutar por um boa classificação colectiva? Claro que os resultados colectivos estão dependentes dos resultados individuais. No entanto, dependendo das circunstâncias em que se desenrola uma corrida, todos sabemos que não é o mesmo correr com o objecto de dar tudo para ficar no top3 nacional (correndo o risco de estourar e eventualmente desistir) ou fazer uma prova com cabeça no sentido de ajudar a equipa. Imaginem o tipo que a meio da prova é o 4.º português. O que fará ele na segunda metade? Dará tudo para chegar ao 3.º (correndo o risco de estourar) ou continua a fazer uma prova inteligente no sentido de garantir que se encontra numa boa posição para compensar a eventual quebra de um dos seus colegas da frente? Já para não falar de que isto de andar a mudar os critérios não é justo para os atletas que definem a sua época com o objectivo último de representar Portugal. Ponham-se no lugar deles: se há mais espaço na Selecção, por que não ir buscar mais atletas segundo os critérios existentes em vez que inventar critérios novos?

Quanto ao mais, parece-me bem apurar os vencedores dos Campeonatos Nacionais (de forma a premiar a sua consistência) e os vencedores da Taça de Portugal [que funciona como prova qualificativa para aqueles que não têm tantas possibilidades (ex: pessoal das ilhas) de fazer um Campeonato inteiro]. No entanto, já não acho que faça sentido incluir mais provas qualificativas ao longo do ano. Uma chega. Mais valia “estender a mão” àqueles que não se revêm nos Campeonatos Nacionais (i.e. Nuno Silva) e que hoje competem mais no estrangeiro do que em Portugal. Não percebo por que razão é que as provas disputadas no estrangeiro não podem servir para efeitos de convocação para a Selecção. Nesse sentido, poder-se-ia igualmente apurar 1 atleta (M/F) tendo em conta a média da sua pontuação ITRA (ex: dos últimos 16 meses) referente à categoria (Ultra ou Endurance) do percurso do Campeonato do Mundo.

Posto isto, se eu mandasse, tendo em conta que serão convocados 14 atletas, seleccionaria o top3 (M/F) do Campeonato Nacional e o top3 (M/F) da Taça de Portugal referente à categoria (Ultra ou Endurance) do percurso do Campeonato do Mundo, mais o melhor atleta (M/F) da categoria em causa segundo a pontuação ITRA.

 

Ainda bem que não mando.

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