ZÉ POVINHO–ATLETA
Hoje, com as redes sociais, qualquer um é atleta. Pode não correr nada, mas basta ser «finisher» do Trail de Curral de Moinas e publicar as fotos da prova no facebook para automaticamente receber o título de «Máquina». E isso é Top!
O Zé Povinho–Atleta alimenta-se da admiração dos outros. O Zé Povinho–Atleta sabe que correr 20km não é nada de especial, mas os elogios que recebe não são piores por causa disso. O Zé Povinho–Atleta é humilde à superfície, mas no fundo é cagão. Vive para os aplausos.
Achando-se atleta, o Zé Povinho–Atleta escarrapacha nas redes sociais todos os seus treinos: os quilómetros percorridos, o desnível vencido, as calorias gastas. No fim das provas, temos de levar com a foto do conjuntinho formado pelos brindes, medalha, sapatilhas enlameadas, relógio com o tempo de corrida, t-shirt de «finisher» e dorsal. Na véspera das provas, temos de levar com a foto do dorsal, acessórios, alimentação e equipamento dobrado em cima da cama. Estão a ver aquelas imagens que as televisões passam sempre que a polícia efectua uma apreensão, com a droga, as armas, os telemóveis e o dinheiro dispostos em cima de uma mesa? É a mesma coisa.
Farto de publicar os seus treinos no facebook, com o número de likes a cair de dia para dia, o passo seguinte passa por criar uma página de atleta no facebook. Temos, portanto, o Zé Povinho–Pessoa e o Zé Povinho–Atleta. Num dia são Pessoas; no outro são Atletas. Ao fim e ao cabo, estamos perante indivíduos bipolares que se levam muito a sério.