7 Resoluções para 2016
Na passagem do ano decretei 7 resoluções para 2016. Decretei-as em voz alta enquanto dava as 12 tradicionais passas num charro de ervas daninhas e bebia uma taça do meu próprio xixi. Não me julguem. É uma tradição de família. O nosso xixi é extremamente efervescente. Faz bolhinhas. É genético.
Sem surpresa, todas as resoluções tinham a ver com o Trail. Igualmente sem surpresa, 5 dias depois já tinha quebrado todas as promessas que havia jurado cumprir—e agora sinto-me um falhado. Ainda para mais eram resoluções totalmente realistas e exequíveis. Tive o cuidado de não dar um passo maior do que a perna, mas mesmo assim falhei em toda a linha.
1. Comer melhor.
Tenho tentado comer da forma o mais variada possível, mas em 2016 só tenho comido brasileiras. Suecas e Dinamarquesas nem vê-las. Todos sabem que as nórdicas são ricas em vitamina C, pelo que receio ficar com escorbuto.
2. Melhorar a minha técnica.
O André Rodrigues—também conhecido como o Rei da Cinestesia—aconselhou-me a correr no monte de olhos vendados como forma de aumentar os meus níveis de propriocepção. Aceitei a sugestão e, no dia seguinte, rachei os cornos ao embater com estes num poio de javali fossilizado. Ele veio visitar-me ao hospital e admitiu que estava a gozar contigo: «Nunca pensei que tentasses mesmo correr de olhos vendados. Tu és maluco? Não vês que isso é muito perigoso. O que eu faço é correr de noite sem frontal. É muito mais seguro.» O André não seria capaz de me enganar duas vezes, pois não?
3. Comprar menos sapatilhas.
Havia estipulado comprar apenas 2 pares de sapatilhas por ano. Já vou em 7: 1 para competir em piso molhado, 1 para competir em piso seco, 1 para os treinos longos, 1 para os treinos intervalados e 3 para andar no dia-a-dia de maneira a exibir-me com estilo. O que me vale é que são todas contrafeitas. Custaram-me 17€ o par no Aliexpress.
4. Treinar em grupo.
Todos me dizem que treinar em grupo é que é bom. A única vantagem que eu vejo é se correr com tipos mais fraquinhos do que eu: dou-lhes um bigode e depois gozo com eles ‘forte e feio’. Acontece que até hoje só 3 pessoas se mostraram interessadas em treinar comigo: o Ricardo Silva, o Jérôme Rodrigues e o Tino de Rans—e com esses eu não faço farinha. São muita areia para o meu camião. Nomeadamente o Tino.
5. Correr de meias.
Tentei. Acreditem que tentei. Mas não dá. Poder-vos-ia dizer que de meias fico com os pés ensopados, que de meias o pé escorrega-me dentro da sapatilha nas descidas, que de meias preciso de esganar o pé para conseguir um mínimo de estabilidade, ou que de meias o cheiro a chulé é insuportável. Tudo isso é verdade. A maior verdade de todas, porém, é que correr sem meias é uma das minhas imagens de marca e eu sou um tipo extremamente cagão. Se agora começar a correr de meias, sabem no que é que eu me transformo? Passo ao anonimato num estalar de dedos e transformo-me em mais um runner, mais um igual a tantos outros—e o meu objectivo de vida não é esse. Eu quero justamente o oposto: quero destacar-me entre a carneirada, ter muitos gostos no facebook e viver feliz para sempre. Também já tentei usar suplementação em pó, mas acabo sempre por voltar à Sopa da Mamã. Por quê? Porque, embora rançosa, é outra das minhas imagens de marca. Lamento, mamã, mas tu não sabes cozinhar.
6. Largar o doping.
Confessei-me antes da missa do galo e o padre da minha paróquia mandou-me largar o doping. O vigário garantiu-me que largá-lo melhora as minhas hipóteses de conseguir um lugar no paraíso. Perante tal dilema, pus a mão na consciência, tirei-a do rabinho passado 5 minutos, fiz um piço com a mesma, apontei-o ao sacerdote e mandei-o passear. Escolho o doping. Tudo indica, portanto, que passarei a eternidade nos quintos dos infernos. Paciência.
Aquilo que a Santa Sé não percebe é que o doping tem uma grande vantagem: faz-nos correr mais. Além disso, como os atletas ainda não são controlados, não há qualquer risco de sermos apanhados. Só os pelintras—sem dinheiro para comprar droga—é que não se dopam. E eu não sou pelintra. O rendimento mínimo chega-me e sobra.
7. Responder a todos os meus fãs.
Ao correio electrónico do TopMáquina chegam-me diariamente centenas de mensagens. A maioria são ameaças de morte e convites de cariz sexual. Cheguei contudo à conclusão de que é humanamente impossível responder a todos os meus fãs. Das duas uma: ou arranjo uma assistente, ou inverto as minhas prioridades. Não estou porém disposto a fazer nem uma coisa nem outra. Arranjar uma assistente está fora de questão: não há orçamento. Quanto às minhas prioridades, esta lista está por ordem decrescente e em primeiro está a minha alimentação (ver ponto 1).
Desde então tenho vindo a penitenciar-me por meio de palmadas no rabinho. Sempre que falho uma resolução, telefono ao Joel José Ginga e ele vem a minha casa açoitar-me as nalgas. Pode não parecer grande castigo, mas o que vocês não sabem é que ele trabalha na agricultura e tem aquelas mãos bem calejadas. O homem, afinal de contas, é praticamente queniano: quando não está a correr, está a cultivar a terra.