A Massificação do Trail
Sinto-me feliz, contente e alegre com o crescimento exponencial do Trail Nacional. No entanto, nem tudo são rosas. Assim de repente, identifico 3 problemas associados à sua massificação:
1. Chico-espertismo
Aproveitando o facto de o Trail estar na moda, o que não faltam por aí são chico-espertos procurando lucrar à conta do Zé—Povinho Atleta. Das 2 toneladas de provas que se realizam semanalmente em Portugal, é inevitável aparecerem provas sem qualidade. Este, porém, é o menor dos nossos problemas. A selecção natural encarregar-se-á de eliminar essas provas. É tudo uma questão de tempo.
2. Ganhar sem evoluir
A meu ver, a massificação do Trail tem prejudicado a evolução dos atletas. Há bons atletas que preferem ganhar a evoluir, escolhendo provas com menos concorrência em detrimento de provas mais concorridas. A massificação promove o aproveitamento de atletas medianos que “fogem” às provas com mais renome – onde sabem que terão mais concorrência – para alcançarem pódios nas provas mais pequenas. E o problema está justamente aqui, pois para evoluir é necessário competir com atletas melhores do que nós. O Trail precisa que os melhores atletas não se evitem – e compitam nas mesmas provas de maneira a evoluírem. A evolução advém da competição. Quem faz apenas provas pequenas não está interessado em evoluir; está apenas interessado nos aplausos.
3. Banalização dos campeões
Banalizou-se a palavra campeão. É-se campeão por tudo e por nada. Hoje, com as redes sociais, qualquer um é campeão. Pode não correr nada, mas basta fazer pódio no Trail de Curral de Moinas e publicar as fotos da prova no facebook para automaticamente receber o título de «campeão». A ignorância desportiva do Zé-Povinho faz com que seja difícil olhar para as características de uma prova (km e D+) e avaliar se o tempo do vencedor é digno de um campeão. Na estrada é fácil, pois as provas são geralmente planas – e ninguém fica impressionado, por exemplo, com um pódio numa Meia-Maratona se esta for corrida acima de 1h15. Já no Trail é complicado fazer essa avaliação, pelo que poucos olham para o tempo final dos vencedores – e estes são automaticamente encarados como “Campeões”, quando na verdade não passam de atletas mediados.
Neste momento, no activo, sem dizer nomes, são estes os verdadeiros campeões do Trail Nacional: para além dos incontornáveis Carlos Sá e Armando Teixeira, temos o André Rodrigues, o Nuno Silva, o Ricardo Silva, o Hélder Ferreira, o Luís Duarte e o Luís Fernandes. Numa prova com todos os melhores atletas nacionais, o vencedor sairia deste grupo. Qualquer um deles poderia ganhar aos outros dependendo das características da prova em causa. Pelo seu historial, temos obrigatoriamente de também aqui incluir o Leonardo Diogo e o Luís Mota. Mas é isto. São dez. No máximo. Os dedos de duas mãos. Temos depois bons atletas, atletas mediados e atletas fraquinhos.
Só vos peço uma coisa: tenham mais cuidado da próxima vez que usarem a palavra "campeão".